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segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

TIRADENTES - O RETORNO

O ‘incalculável’ número de leitores desta Coluna já sabe que era Copa do Mundo e que até então eu estava há 3 dias sem dormir e já havia filmado várias pessoas e lugares interessantes para o meu filme, primeiro em Tiradentes, depois no Bichinho e agora voltando à cidade do mártir da Inconfidência. Lá vamos nós.

Chego de carona e com um único objetivo: dormir.
Almoço num restaurante no Centro e ligo para Janaina perguntando se posso dormir lá.
Ela diz que tudo bem. Chego, tomo banho e durmo de tarde até o dia seguinte.
Day after, vou com Janaina e a irmã dela tentar filmá-las em uma escada de ferro que eu havia visto em um ferro velho. A idéia é filmar as duas ao mesmo tempo, sentadas nesta escada solta no meio do terreno, mas o ferro velho está fechado e um cão bravíssimo nos desanima a entrar clandestinamente naquele local: filmagem cancelada.

A noite, vinho num barzinho com lareira, depois, andando pela praça escuto acordes de blues, vou na direção e dentro de outro barzinho rola o maior show de blues: Lancaster Trio. O guitarrista consegue ser tão bom quanto Jimi Hendrix, Eric Clapton, BB King e Stevie Ray Vaughan ao mesmo tempo! E o show não tem hora pra acabar...

Lá pelas tantas passa ao meu lado o meu colega, o ator Matheus Nachtergaele, com quem contracenei há algum tempo no filme O Enfermeiro (foto). Como é noite alta, ele passa do meu lado e nem me vê. Normal. Tudo é cinema. Lembro do meu filme e que ainda falta muito pra terminá-lo. Paciência e insistência.

No outro dia saio para comprar presentes pra quem merece e pra quem não merece. Percorro outros lugares: uma igreja que foi construída só por escravos, um presídio abandonado que é uma ótima locação para cenas futuras, sorveteria, brechó, lojas, restaurantes, bares, etc, multidões de turistas com guias bem informados. Tem prefeitos e secretários de turismo que deveriam conhecer cidades do Brasil e do exterior antes de falarem em turismo.

Ainda no outro dia assisto na Via Itália jogo do Brasil, que vence a duras penas. O engraçado é que todo mundo se abraça diante do telão. Pessoas que nunca se viram antes se sentem tão próximas e mais brasileiras a cada gol da Seleção.

Volto para a pousada da Clarice e do Davi e combino de entrevistá-los na manhã seguinte.
Acordo tarde, como sempre. Preparo o equipamento e os entrevisto, um de cada vez. Simplesmente não dá pra descrever estas entrevistas, só vendo o filme mesmo !...
No próximo número filmagens em Caxambu e Gracy lindinha. Até lá.

PS. Na próxima edição teremos link para visualização de parte do filme. Quem quiser colaborar ou apoiar o filme, e-mail para olharfilmes@bol.com.br

sábado, 11 de novembro de 2006

BICHINHO

Como vimos na edição passada, estou há dois dias sem dormir, é época de Copa do Mundo e estou sendo levado de carona pelo meu entrevistado Edalmo, de Tiradentes para o Bichinho. A distância é de poucos quilômetros.

No caminho conversamos sobre a beleza natural da paisagem.

Chegando ao Bichinho passamos pelo Museu do Carro Antigo, que somente dias depois descobri pertencer a um amigo meu. Paramos em frente a loja onde está trabalhando outro amigo: Alexandre (Alex Condera), que há meses eu não via. Depois de rápida conversa, clientes na loja, Edalmo me leva a conhecer melhor esta cidadezinha. Aproveito para filmar a cruz em frente a Igreja principal. Faço este ‘take’ com a câmera na mão mesmo. A cruz é cheia de símbolos estranhos: serrote, flores, caveira, laços, etc. e fica bem recortada diante do azul do entardecer. À porta da Igreja um pequeno aglomerado de pessoas.

Rumo para lá com a câmera, afinal o filme fala disso: pessoas e lugares. Passo filmando por entre o grupo, entro na Igreja e percebo a mancada. Era um velório. Saí rápido. Mais um fora para a coleção. Voltamos para a loja do Alexandre e combinamos que vou dormir na casa dele para fazer novas filmagens no Bichinho na manhã seguinte. Mas a manhã seguinte custou a chegar: é inverno, é Bichinho, passa riacho atrás da casa, é um frio filho da p..., o chão está gelado, as paredes, eu. Tudo é gelo. Na sala, ligo a TV, me sento no sofá e, embrulhado pelos cobertores, espero o sol antes que eu vire um cineasta picolé. E este foi o meu 3º dia sem dormir.

Amanhece, o Alexandre sai do quarto dele como se o frio não tivesse acontecido e vai trabalhar. Eu pego minha tralha e vou filmar, com medo de cair duro e preto na estrada com a cabeça em cima do primeiro tufo de grama achando que aquilo é um travesseiro. Mas no meio da estradinha de terra eu avisto a cena do dia: uma menina (a da foto) vindo de longe empurrando um carrinho de obra com várias bonecas dentro. Me fez pensar na realidade brasileira, nas tristezas e na pureza da infância. Em um segundo já estou filmando.

A menina cujo nome não sei, bem poderia ser o símbolo deste filme.

O destino que transporta pessoas. Esta cena já valeu tudo.

Na volta, o delírio do sono me fez perder as chaves da casa do Alexandre, depois achei, perdi o ônibus pra Tiradentes mas voltei para lá de carona.

No próximo capítulo: o retorno à Tiradentes, novas entrevistas, Mateus Nachtergaele, e Lancaster Trio – o melhor show de blues do mundo!

Nos vemos de novo em Tiradentes.

Até lá.

TIRADENTES (Copa do Mundo de 2006)


Acordo às 5 da manhã. Ou seja: nem dormi. (Quem se deita todos os dias depois das 3 da manhã sabe do que estou falando).

Pego o ônibus na maltratada e descascada rodoviária de Caxambu. Poucas horas depois desembarco em São João Del Rei. O frio é tão grande que penso em voltar para o conforto e calor da minha cama. Mas como estou em plena temporada de filmagem sigo em frente. Almoço em São João servido por uma garçonete oferecida.

Pego outro ônibus e logo chegou ao meu destino: Tiradentes.

A cidade é simplesmente incrível. Preservada, bem cuidada, com um verdadeiro turismo nacional e internacional (aliás, turismo é isso, em qualquer parte do mundo, menos em Caxambu). Lá sou recebido por duas irmãs, Janaina e Nariel (ou Anariel, até hoje não descobri), que rapidamente me ‘colocam’ em uma pousada, onde descarrego meus equipamentos. Então vamos almoçar com o pai delas, o Edalmo, que será o meu primeiro entrevistado naquela cidade. Durante o almoço e a conversa, já sinto que a participação dele será ótima: ele tem um raciocínio rápido e lógico, com um forte conteúdo espiritual. Vejam que não estou falando de uma conversa superficial e esotérica. O Edalmo é uma rara pessoa com profunda visão humanista, com percepção da bondade e das forças invisíveis que movem o universo. Acaba o almoço e marcamos os detalhes para a filmagem no dia seguinte. Com o resto do dia livre ando pelos inúmeros recantos maravilhosos de Tiradentes: comércio, igrejas, restaurantes, lugares bonitos (isso é o que não falta), etc. Volto à noite para a pousada, banho, etc.

Checo o equipamento. Recarrego as baterias do celular e da filmadora. O frio é insuportável. Tento dormir. Isso mesmo, tento. Mas não consigo, ou seja: é a 2ª noite que não durmo. De manhã a dona da pousada, Clarice (guardem bem este nome), me pergunta toda feliz se eu dormi bem e eu muito sincero digo que não. Tomo o café da manhã, pego minhas coisas e vou para a filmagem. Chego na casa do Edalmo, monto o tripé, câmera, pedestal com microfone, ajusto enquadramento, foco, luz, etc. e pela primeira vez o entrevistado vê que a coisa é séria mesmo. Tudo ligado, eu faço a primeira pergunta: - Por que você veio morar aqui?

Outras perguntas se sucederam com respostas interessantes e pouco comuns.

Eu estava certo, esta seria uma ótima entrevista e um ponto alto no filme.

Vocês notaram que nesta situação eu estava sem a minha equipe, aliás, eu não tinha equipe. Agora minha equipe já está enorme: 4. Isso mesmo, 4 almas bondosas, sendo eu mesmo uma delas. Falarei sobre os integrantes brevemente. Mas em compensação a minha lista de agradecimentos já está gigantesca.

Terminada a filmagem Edalmo me dá uma carona até o Bichinho, que fica ao lado de Tiradentes, para as filmagens do dia seguinte.

Mas bem, o dia seguinte eu conto na próxima edição.

Por enquanto só posso adiantar uma coisa: naquele momento a minha maior preocupação era conseguir dormir depois de dois dias acordado.

Nos vemos no Bichinho, até lá.

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